O Outono aproxima-se a passos acelerados
demais para meu gosto, e nem nos dá tempo a saborear os últimos churrascos de Verão.
No Sótão começa-se a pensar naquelas refeições dos dias mais frios acompanhados
de um bom vinho tinto e boa companhia à lareira, mas ainda falta algum tempo, e
por isso dá-se largas, outra vez, à conversa sobre a alimentação saudável questionando-se
se a teoria de Hipócrates que deu origem à frase “Somos o Que Comemos” tem hoje em dia algum fundamento importante.
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Somos o Que Comemos? |
Há mais de 2500 anos, Hipócrates,
considerado o pai da medicina, dizia que “Somos o Que Comemos”, e reflectindo
sobre os seus estudos e descobertas, dizia que as epidemias de então tais como
a malária, papeira, pneumonia e tuberculose relacionavam-se com factores climatéricos,
raciais, do meio ambiente onde se vivia e dietéticos.
Mais de 2500 anos depois, e muito
apesar de uma generalizada emigração e globalização, a sua teoria está inegavelmente
correcta, mas há que acrescentar algo que Hipócrates então desconhecia e que
vem alargar a discussão e em alguns casos alguma confusão:
- O factor genético e a mutação
do mesmo.
O código genético de cada um de
nós dá-nos uma autenticidade única, fazendo com que os alimentos que ingerimos
tenham reacções diferentes nos membros de família directa onde o mesmo foi
herdar um bocadinho de cada membro mas sempre com alguma nuance diferente, fazendo-o completamente genuíno, ou seja
diferente.
Portanto nos dias de hoje ao
dizer-se “somos o que comemos” não
se está a ser completamente correcto porque a medicina já “estudou essa lição”,
e sabe que o factor genético também tem um papel preponderante no estado de
saúde de cada um de nós, predispondo-nos mais ou menos a certas reacções, alergias,
sensibilidades, ou até de doenças.
Graças à Medicina Funcional e
Integrativa, hoje já se pode olhar para a pessoa como alguém com
individualidade própria tratando-o de forma única, mas infelizmente este tipo
de medicina ainda não está disponível em todo o mundo. Por exemplo em Portugal
há apenas a
Dra. Cristina Sales e a sua equipa, a integrar este tipo de medicina por muitos
ainda desconhecida.
Pela porta da Medicina Funcional e Integrativa entrou a Nutrição Funcional que engloba os conhecimentos das Ciências da Nutrição e Alimentação e enriquece-os com o reconhecimento de que cada indivíduo é único:
1 - É único no conjunto dos seus genes e na expressão genética que favorece e estimula.
2 - É único na forma como, imunologicamente, tolera ou não tolera os alimentos que habitual e regularmente ingere. Nesta tolerância / intolerância reside, escondido, um factor de modulação da nossa saúde e bem-estar.
3 -É único na inter-relação sinérgica de ritmos biológicos, de trabalho, de lazer, de descanso.
Há anos que abundam as dietas
disto e daquilo, cada especialista defende-a como se a sua fosse a melhor.
Lembro-me que quando estudei Ciências da Nutrição nos anos 80, o que estava na moda era a Macrobiótica,
que no fundo mais não era que um tipo de dieta vegetariana e que nunca me
convenceu mesmo depois de terminar o curso e saber de trás para a frente as
vantagens e desvantagens da mesma. Perguntarão porquê? – Porque procuro sempre
o equilíbrio em tudo e muito mais na alimentação que nos sustenta no dia-a-dia.
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Somos o Que Comemos? |
Nasci na Europa, em Portugal, fui
habituada a uma alimentação baseada no regime mediterrânico que inclui carne,
peixe, lacticínios, cereais, legumes e frutas, sempre fui saudável, por que
razão mudaria? Pessoalmente não teria razão nenhuma para mudar, mas esta minha
razão não serve para todos, precisamente, porque o factor genético tem tanta influência
na forma como o nosso organismo reage, resiste ou rejeita certos alimentos.
As dietas continuam a surgir com
nomes mais ou menos interessantes, a Paleo por exemplo, talvez a mais recente
com o nome mais antigo, consiste num regime baseado nos alimentos ingeridos
pelo homem das cavernas ou seja o Paleolítico.
À medida que surge uma nova dieta
surge também uma nova onda em que as opiniões divergem quase sempre. Porque a nutrição é não só uma das minhas áreas de formação, mas também de contínuo interesse,
procuro manter-me informada ao longo dos anos sobre novos estudos e descobertas
e chego à conclusão que nunca se chegará a nenhum consenso objectivo e válido
de igual para todos, por isso a minha regra de ouro que é: - nada de
excessos, e na variedade é que está o
segredo, sobre a qual já escrevi em
Verdades sobre Uma Alimentação Saudável ,
continuará a ser o melhor conselho ou pelo menos um de bom senso.
Antes de terminar esta conversa,
que já vai longa, sobre as afirmações de Hipócrates que
“somos o que
comemos” e que ainda hoje têm algum fundamento, gostaria de convidar quem me lê
e domina o inglês, a ver um vídeo interessantíssimo, em que o Dr. Frank Lipman,
Fundador e Director do Eleven Wellness Center, Dr. Mark Wyman - Chairman do
Intitute of Functional Medicine e o Dr. Joel Kahn – Cardiologista e autor de
Holistic Health Book, onde debatem e divergem sobre o consumo do açúcar, gorduras,
glúten, lactose, entre outros, mas terminam concordando que o importante é “
comer os alimentos que Deus nos deu em vez
dos que o homem faz”. Podem ver o vídeo
aqui, asseguro-vos que são quase 30
minutos que valem a pena.