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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cozido à Portuguesa

Cozido à Portuguesa – a origem e a tradição a não perder


Em pleno Inverno pensa-se em pratos quentes que nos aconchegam o estômago e nos aquecem a alma, e no Sótão da Gina a conversa sobre o cozido à portuguesa surgiu por várias razões, mas a principal talvez tenha sido a leitura de vários artigos, um deles no The Guardian que pode consultar aqui, sobre os benefícios em beber caldo de carne; de imediato, o pensamento levou-nos à nossa tradição a não perder - o nosso prato tão tradicionalmente português – o cozido à portuguesa e o seu caldo ou sopa de cozido.

Cozido à Portuguesa
Na gastronomia, é fácil chegar à conclusão que por muito que se invente, os pratos mais tradicionais são os mais ricos em termos nutritivos -  que se podem adaptar, podem -  mas a base mais importante está sempre no original.

Porque quem procura acha, a conversa não podia ficar completa se não se conseguisse chegar à conclusão da origem do cozido à portuguesa. Se por um lado o nosso amigo motor de busca Google facilita e ajuda a encontrar o que outrora só se conseguia em enciclopédias, por outro lado pode levar-nos à irritação quando nos leva primeiramente a blogues que se limitam a fazer “copy/paste” uns dos outros com informações em nada correctas e algumas, um pouco sem sentido, ou até absurdas.

Cozido à Portuguesa

Encontrámos um rol de blogues a afirmarem que na origem do cozido à portuguesa estava, e passo a citar: -  “ … antigamente os mais pobres não possuíam muito dinheiro, como é óbvio, a solução para aproveitar as sobras era pôr tudo numa panela e cozer até se apurar uma refeição com bastante consistência com fim de lhes dar energia …”; ainda outra conclusão não menos interessante: - “o cozido à portuguesa tem origem judaica. No Shabat os judeus não podem, dentre outras coisas, acender fogo e cozinhar. Então cozinhavam na véspera carnes e vegetais, que seriam consumidos após o pôr-do-sol do dia do descanso”. Ora, se na primeira hipótese a afirmação de  - antigamente os pobres não tinham muito dinheiro e punham tudo numa panela a cozer, o cozido à portuguesa não é de todo um prato barato pois devido à sua variedade de carnes e enchidos, para não falar nos legumes, verduras e leguminosas é de facto um prato até dispendioso; a segunda é ainda mais absurda porque os judeus não comem carne de porco e uma das carnes que abunda no cozido à portuguesa é a carne de porco.

Mas adiante, porque quem procura acha... pode levar algum tempo, mas acha!

Sopa
 de Cozido à Portuguesa

Afinal, segundo Virgílio Nogueiro Gomes, um verdadeiro entendido na matéria de gastronomia portuguesa e as suas origens, numa das suas crónicas que podem ler aqui na integra, refere que “ a primeira receita escrita do cozido em Portugal é publicada na Arte de Cozinha de Domingos Rodrigues, 1680, e que tem a designação castelhana de “Olla Podrida”. E diz ainda – “ De acordo com a cozinha que se inscreve naquele livro, cozinha palaciana ou de mesas abastadas” . Ora isto já nos parece uma informação bastante mais credível, e para quem queira saber mais sobre a gastronomia tradicional portuguesa pode comprar olivro de Virgílio Nogueiro Gomes – “Tratado do Petisco”,  por aqui tal como nós já fizemos e  apenas aguardamos o envio por correio.  

Agora já sabendo a origem desta tradicional iguaria portuguesa que consiste numa refeição completa, e não só…(ver dica no fim) a conversa insiste na riqueza do prato pela diversidade de carnes, legumes, verduras e leguminosas mas também porque os nutrientes que compõem o caldo pela cozedura de todos os ingredientes torna-o dos mais nutritivos da nossa gastronomia.

Assim, antes ou depois de comer o belo cozido à portuguesa que no Sótão da Gina consideramos uma tradição a não perder, a sopa ou o caldo do cozido com a respectiva folha de hortelã é o caldo verdadeiro néctar dos deuses que nos revigora a alma para mais uns dias de Inverno.

Caldo de Cozido à Portuguesa

Já agora uma dica: se lhe sobrar cozido, guarde bem acondicionado no frigorífico por alguns dias e depois prepare uma bela feijoada à transmontana com todos os ingredientes que sobraram, incluindo o caldo.

Bom apetite!
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