A conversa de hoje no Sótão da Gina é mais um monólogo de opinião que outra coisa, pois é como que um
enunciado da anfitriã que tem formação em Ciências da Nutrição, e que pode de
alguma forma esclarecer quem ficou confuso com a informação transmitida pela
comunicação social durante os últimos dias, sobre o consumo de carne e peixe e
o deixou a fazer a pergunta do nosso título:
- e afinal podemos comer o quê?
No dia 26 de Outubro foi efectuado
um comunicado de imprensa pela Organização Mundial de Saúde sobre a informação publicada
pela IARC - International Agency for
Research on Cancer (Agência Internacional de Pesquisa para o Cancro) resultante
de monografias de 22 cientistas de 10 países
que avaliam o consumo de carne vermelha e carne processada em termos de
carcinogenicidade (serem ou não carcinogénicos).
Desta publicação, surgiram as
mais diversas noticias algumas delas dando um toque cómico em vez de
elucidativo e sério que o assunto merece. Como se não bastasse esta informação,
a Global Footprint Network publicou no mesmo dia, um relatório sobre um novo
estudo intitulado “Países mediterrânicos aquém de alcançar uma visão da região
de desenvolvimento sustentável” que originou os mais diversos e controversos
artigos sobre o consumo de peixe em Portugal. Ver comunicado aqui.
Entre os artigos sobre o consumo
de carne e o consumo de peixe gerou-se a polémica onde entraram inevitavelmente
os legumes e frutas com pesticidas e
gerou-se a pergunta comum a muitos:
- E afinal podemos comer o quê?
E afinal podemos comer o quê? |
Para a comunidade ciêntifica, creio que no texto sobre o resultado das monografias dos 22 cientistas que pode encontrar aqui, não há grande novidade a acrescentar ao que já era sabido, no entanto a informação deveria ser transmitida à comunidade em
geral, de forma descomplicada e
desmistificada. Dos que lemos em Portugal, o que achámos mais adequado foi este
artigo do Observador que pode ler aqui
Em termos práticos
e esclarecedores, para quem nos lê e não esteja inteirado sobre este tema que se
insere na nutrição e saúde, e que obviamente nos preocupa e interessa a todos, extraindo
e resumindo das monografias a informação importante, conclui-se que o consumo ( a partir de) mais de 100gr de carne processada poderá
aumentar o risco de 17 ou 18% de contrair cancro - em especial o cancro colo-rectal,
não pela carne em si, mas sim pelos produtos utilizados para o processamento
das mesmas. Quanto à carne que não é processada, há cientistas que tendem a associar o seu
consumo a alguns casos específicos de cancro mas não têm evidência concreta e
por isso fazem apenas o alerta da possibilidade.
As nossas linhas gerais do que se
deve reter para a prevenção são:
1 - o consumo excessivo de
qualquer alimento é nocivo, independentemente de ser carne, peixe, legumes ou
frutas. Mais tarde ou mais cedo vai deixar depósitos excessivos de nutrientes
ou químicos que serão mais dificilmente eliminados do organismo.
2- a probabilidade de cada pessoa contrair cancro tem muito a ver
com o ambiente onde a mesma reside, hábitos e metabolismo individual, e ainda (talvez) a mais importante - a genética,
em vez de apenas e só pelos alimentos
ingeridos.
3 – a dieta mediterrânica continua
a ser até hoje a mais aconselhada para a manutenção de uma saúde ideal, mas há que ser comedida
nas quantidades, e ajustada a cada individuo dependendo da sua actividade e
idade. Excepção será feita àqueles que têm intolerâncias ou alergias
alimentares a quem deve ser recomendada uma dieta específica e à sua medida.
4 – comer de tudo de forma
variada e rotativa, não repetindo os mesmo alimentos em três a quatro dias. Isto dará tempo ao
organismo de se “limpar” de excessos de nutrientes ou químicos e assim não se “encharcará”
dos mesmos que podem originar excesso de peso ou doenças metabólicas, ou ambos
(como é o caso da diabetes).
As conclusões a fazer serão
diferentes para cada país, mas para os hábitos actuais em Portugal, é bem
simples: - Come-se
demais.
E afinal podemos comer o quê? |
Não há necessidade de duas
refeições quentes onde entra peixe e, ou carne em ambas, mais hidratos de
carbono, legumes e fruta. Um dos erros crassos num prato “à portuguesa” é para
dar um único exemplo: - o bitoque
acompanhado de ovo, batata frita, arroz e salada; a combinação de dupla dose de
proteína com a dupla dose de hidratos de carbono não é de todo salva pela
salada que nem sequer deveria ir no mesmo prato, porque jamais se misturam
alimentos frios e quentes no mesmo recipiente.
A comunidade mais velha, por
exemplo, acaba por contrair diabetes precisamente pela ingestão exagerada de
alimentos, que pela sua condição mais sedentária, o organismo deixa de ter capacidade
de os digerir e eliminar de forma adequada. Esta comunidade tem muito mais
necessidade de se hidratar do que ingerir tanta quantidade de alimentos e é de
lamentar que muitos vivam “encharcados” de medicamentos para corrigir os
excessos, em vez de serem aconselhados a comer menos e de forma adequada não só
à sua idade como às suas necessidades nutricionais.
E afinal podemos comer o quê? |