Pode a memória fotográfica ser também selectiva?
Há temas fascinantes abordados no Sótão e o de hoje é deveras um deles,
concernem a memória, mais concretamente a Memória Fotográfica e Memória
Selectiva.
Memória Fotográfica e Memória Selectiva |
Memória eidética, ou mais popularmente conhecida como Memória
fotográfica, é a capacidade de se lembrar de algo que ouviu ou viu, com um
nível de detalhe pormenorizado quase perfeito. A palavra eidética vem do grego εἶδος (eidos), que significa visto, e é actualmente
usada para descrever algo marcado por, ou envolvendo memórias
extraordinariamente precisas e vívidas, especialmente as visuais.
Memória
selectiva é tão simplesmente, a memória que inteligente e prudentemente
selecciona apenas aquilo que lhe convém ou aquilo que lhe é agradável.
António Damásio, o brilhante e bem
conhecido neurologista e neurocientista português que tem dedicado parte da sua
vida a estudar o cérebro, a memória e a relação com a consciência, no seu livro
“The Feeling of What Happens” (Sentimento do que Acontece) que foi editado
apenas em inglês, escreveu o seguinte na página 332, que traduzi da forma mais fiel, possível, ao original:
…Toda a nossa memória, herdada da
evolução e disponível no nascimento, ou adquirida através da aprendizagem a
partir daí, em suma, toda a nossa memória das coisas, das pessoas e dos
lugares, dos eventos e relacionamentos, de competências, de normas
biológicas, existe em forma disposicional (sinónimo de
implícito, secreto, não-consciente), esperando para se tornar numa imagem
explícita ou acção. Note-se que esta disposição não está em palavras. São
registos abstractos de potencialidades…
Parece perceptível na leitura deste
trecho que a memória fotográfica
existe em qualquer cérebro humano, já a utilização dessa potencialidade por
qualquer um, não é assim tão clara. Afigura-se quase à analogia de ter uma
fortuna e não gastá-la!
E se a memória fotográfica fosse também selectiva?
Memória Fotográfica e Memória Selectiva |
Combinar estas duas potencialidades, funcionalidades
ou valências da memória deve constituir o melhor dos dois mundos: - o que nós
vemos e o que queremos gravar para mais tarde recordar.Quem não gosta de recordar com
pormenor de circunstância, uma experiência absolutamente extraordinária
ocorrida há imensos anos atrás? Quem não gosta de recordar situações dessas que
envolvem quase sentir o cheiro e as sensações desse então?
Tenho a felicidade de ter várias,
senão inúmeras memórias gravadas onde muitas delas remontam a situações de
infância, e ao escrever sobre este tema, e utilizando a analogia de “ter uma
fortuna e não gastá-la”, cheguei à conclusão que tenho um tesouro guardado no
meu cérebro e o único “bico-de-obra” que ainda estou a aprender a resolver, é
como continuar a preservar desta forma tão vívida e gastar com conta e medida,
de forma a nunca me faltar todas as memórias que me fazem bem e me ajudam na
evolução e aperfeiçoamento.
E você? Também tem memória fotográfica e memória selectiva?
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