sábado, 31 de outubro de 2015

E afinal podemos comer o quê?

A conversa de hoje no Sótão da Gina  é mais um monólogo de opinião que outra coisa, pois é como que um enunciado da anfitriã que tem formação em Ciências da Nutrição, e que pode de alguma forma esclarecer quem ficou confuso com a informação transmitida pela comunicação social durante os últimos dias, sobre o consumo de carne e peixe e o deixou a fazer a pergunta do nosso título:  - e afinal podemos comer o quê?

No dia 26 de Outubro foi efectuado um comunicado de imprensa pela Organização Mundial de Saúde sobre a informação publicada pela  IARC - International Agency for Research on Cancer (Agência Internacional de Pesquisa para o Cancro) resultante de  monografias de 22 cientistas de 10 países que avaliam o consumo de carne vermelha e carne processada em termos de carcinogenicidade (serem ou não carcinogénicos).

Desta publicação, surgiram as mais diversas noticias algumas delas dando um toque cómico em vez de elucidativo e sério que o assunto merece. Como se não bastasse esta informação, a Global Footprint Network publicou no mesmo dia, um relatório sobre um novo estudo intitulado “Países mediterrânicos aquém de alcançar uma visão da região de desenvolvimento sustentável” que originou os mais diversos e controversos artigos sobre o consumo de peixe em Portugal. Ver comunicado aqui.

Entre os artigos sobre o consumo de carne e o consumo de peixe gerou-se a polémica onde entraram inevitavelmente os legumes e frutas com pesticidas e  gerou-se a pergunta comum a muitos:  - E afinal podemos comer o quê?

E afinal podemos comer o quê?
O comunicado de imprensa da Organização Mundial de Saúde, que pode ler aqui é obviamente sintético porque é dirigido à comunidade em geral e não à cientifica, por isso há que com rigor e honestidade intelectual, que compete aos órgãos  de comunicação social,  produzir informação interpretativa e adequada para não aterrorizar a opinião publica, mas pouco foi feito nesse contexto porque o sensacionalismo  é que vende, é que origina muito comentário e falatório.  Posteriormente e em tom de reparar os danos, alguns têm vindo a publicar artigos atestando que afinal não é tudo bem assim, e que talvez na moderação esteja a resposta.

Para a comunidade ciêntifica, creio que no texto sobre o resultado das monografias dos 22 cientistas que pode encontrar aqui, não há grande novidade a acrescentar ao que já era sabido, no entanto a informação     deveria ser transmitida à comunidade em geral, de forma descomplicada  e desmistificada. Dos que lemos em Portugal, o que achámos mais adequado foi este artigo do Observador que pode ler aqui 

Em termos práticos e esclarecedores, para quem nos lê e não esteja inteirado sobre este tema que se insere na nutrição e saúde, e que obviamente nos preocupa e interessa a todos, extraindo e resumindo das monografias a informação importante, conclui-se que o consumo ( a partir de)  mais de 100gr de carne processada poderá aumentar o risco de 17 ou 18% de contrair cancro - em especial o cancro colo-rectal, não pela carne em si, mas sim pelos produtos utilizados para o processamento das mesmas. Quanto à carne que não é processada,  há cientistas que tendem a associar o seu consumo a alguns casos específicos de cancro mas não têm evidência concreta e por isso fazem apenas o alerta da possibilidade.

Este artigo do Publico também tem algum interesse e pode lê-lo aqui.

E afinal podemos comer o quê?
As nossas linhas gerais do que se deve reter para a prevenção são:

1 - o consumo excessivo de qualquer alimento é nocivo, independentemente de ser carne, peixe, legumes ou frutas. Mais tarde ou mais cedo vai deixar depósitos excessivos de nutrientes ou químicos que serão mais dificilmente eliminados do organismo.

2- a probabilidade de  cada pessoa contrair cancro tem muito a ver com o ambiente onde a mesma reside, hábitos e metabolismo individual,  e ainda (talvez) a mais importante - a genética,  em vez de apenas e só pelos alimentos ingeridos.

3 – a dieta mediterrânica continua a ser até hoje a mais aconselhada para a manutenção de uma saúde ideal, mas há que ser comedida nas quantidades, e ajustada a cada individuo dependendo da sua actividade e idade. Excepção será feita àqueles que têm intolerâncias ou alergias alimentares a quem deve ser recomendada uma dieta específica e à sua medida.

4 – comer de tudo de forma variada e rotativa, não repetindo os mesmo alimentos em  três a quatro dias. Isto dará tempo ao organismo de se “limpar” de excessos de nutrientes ou químicos e assim não se “encharcará” dos mesmos que podem originar excesso de peso ou doenças metabólicas, ou ambos (como é o caso da diabetes).  

As conclusões a fazer serão diferentes para cada país, mas para os hábitos actuais em Portugal, é bem simples:  -   Come-se demais.
E afinal podemos comer o quê?

Não há necessidade de duas refeições quentes onde entra peixe e, ou carne em ambas, mais hidratos de carbono, legumes e fruta. Um dos erros crassos num prato “à portuguesa” é para dar um único exemplo: -  o bitoque acompanhado de ovo, batata frita, arroz e salada; a combinação de dupla dose de proteína com a dupla dose de hidratos de carbono não é de todo salva pela salada que nem sequer deveria ir no mesmo prato, porque jamais se misturam alimentos frios e quentes no mesmo recipiente.

A comunidade mais velha, por exemplo, acaba por contrair diabetes precisamente pela ingestão exagerada de alimentos, que pela sua condição mais sedentária, o organismo deixa de ter capacidade de os digerir e eliminar de forma adequada. Esta comunidade tem muito mais necessidade de se hidratar do que ingerir tanta quantidade de alimentos e é de lamentar que muitos vivam “encharcados” de medicamentos para corrigir os excessos, em vez de serem aconselhados a comer menos e de forma adequada não só à sua idade como às suas necessidades nutricionais.

E afinal podemos comer o quê?
Do Sótão da Gina esperamos que esta informação tenha sido um pouco mais esclarecedora e deixamos a mensagem para que não fique na dúvida, perguntando a si próprio “e afinal podemos comer o quê?” - Coma de tudo um pouco, de forma variada, equilibrada ao seu organismo, ajustada ao seu modo de vida, usando o bom senso e sem radicalismos. Se tiver historial de cancro na família, então aconselhe-se melhor com o seu médico.  

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